sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal

Que os abraços apertados não sejam questão de data,mas de sinceridade e de transparente amor.

Que os presentes dados e recebidos não contenham obrigação, mas leveza de coração.

Que as bênçãos da meia-noite não dependam de 1 minuto, mas que venham para a vida toda.

Que a ceia não seja só de alimentos com bom tempero,mas que tenha muitas pitadas de bons pensamentos.

Que a família, por maior ou menor que seja,não apenas celebre a data com os melhores vinhos,mas que celebre também os sagrados laços de sangue.

Que a árvore não esteja predestinada a ser lançada ao lixo após as Festas, mas que seja tão bem conservada quanto as mais verdes esperanças.

Que o presépio não só represente o nascimento de Jesus, mas também o renascimento da criança amorosa e inocente que ainda vive em ti.

Eu te desejo um Natal diferente, e esse desejo vai a ti como um presente.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Deixe - me Nascer





Oi, tô feliz!
Mãe, você ainda nem deve saber
Sou pequeno mas estou aqui
É tão seguro, há tanto calor
Ah! Como é bom... Doce lugar de amor
Sim, vou crescer!
E um dia correndo pra ti
Pular em teu colo e sorrir
Te dar um beijo e agradecer
Aquele tempo que em ti, Deus quis me tecer
Deixe-me nascer, já tenho um coração!
Deixe-me te amar, de uma chance!
Posso provar... Sou de Deus, quero amar!
Mãe, o que é que foi?
Eu incomodo você!?
O que nos pretende fazer?
Mas mesmo assim, se ainda não me aceitar,
No céu pra você vou orar
Te dar um beijo e agradecer
Aquele tempo que em ti, Deus quis me tecer
Deixe-me nascer, já tenho um coração!
Deixe-me te amar, de uma chance!
Posso provar... Sou de Deus, quero amar!
(Quero viver)

sábado, 15 de outubro de 2011

Maria e o Anjo




Quem serás tu, criatura bela, que encheu meu quarto com tua luz?
O teu olhar me trouxe a paz! Tua presença me refaz
Eu sou o anjo Gabriel, venho em nome do Senhor
Darás a luz ao Salvador, serás a mãe do Emanuel
Porque teus lábios tremem tanto assim? Porque não tira os teus olhos de mim?
Há tanta graça em estar diante de ti e o céu inteiro espera por teu "sim"
Não temas doce anjo do Senhor, escuta o que agora eu vou falar!
Sorri, vai ao céu anunciar: sim, eu serei a mãe do Salvador

Ave Maria, quanta alegria! O céu se encheu de luz pois vai nascer Jesus
Santa Maria, Deus escolheu-te bem e todos os anjos cantam amém

Porque teus lábios tremem tanto assim? Porque não tira os teus olhos de mim?
Há tanta graça em estar diante de ti e o céu inteiro espera por teu "sim"
Não temas doce anjo do Senhor, escuta o que agora eu vou falar!
Sorri, vai ao céu anunciar: sim, eu serei a mãe do Salvador

Ave Maria, quanta alegria! O céu se encheu de luz pois vai nascer Jesus
Santa Maria, Deus escolheu-te bem e todos os anjos cantam amém 
Santa Maria, Deus escolheu-te bem e todos os anjos cantam amém


Dalvimar Gallo

Bate Coração (Tum Tum Tá)




(Hum, HumHum Eu sei
Eu eu também te amo tanto Jesus HãHãHã)
Deus está falando comigo
É a sua voz, é sua paz que eu sinto
Deus está falando comigo
Meu coração bate forte por isso
E quando o ouço falar, me deixo apaixonar
E dentro de mim faz
Tum tum tá, tum tum tá (meu coração vai escutar...)
Tum tum tá, tum tum tá (ah! Esse amor é tão lindo...)
Tum tum tá, tum tum tá (meu coração quer falar...)
Tum tum tá, tum tum tá (feliz e amado eu me sinto...)
Poesia...
(Cada coração é uma história a ser contada, conhecida e, se possível, amada
O coração humano não foi feito pra ser sozinho, precisa ser povoado
Preenchido por outras presenças
Sozinho significará pouco, mas ao se abrir multiplicará o que na natureza lhe foi dada)
Tum tum tá, tum tum tá (esse meu Deus é tão lindo...)
Tum tum tá, tum tum tá (eterno, forte e infinito...)
Tum tum tá, tum tum tá (é desse amor que eu preciso...)
Tum tum tá, tum tum tá (seguro e calmo eu me sinto...)
Tum tum tá, tum tum tá (bem dentro de mim faz...)
Tum tum tá, tum tum tá (bem dentro de mim faz...)
Tum tum tá, tum tum tá (bem dentro de mim faz...)
Tum tum tá, tum tum tá
(Bate coração...)

Celina Borges

Guerra


Há um povo neste lugar, pronto pra se levantar
Esperando a ordem do Senhor, homens que vivem no louvor
Há um exército a guerrear

Homens de coragem real, jovens arrancados do mal.
São famílias restauradas, são pessoas transformadas
que trazem na fronte um sinal.

Estende a mão, profetiza a sua unção, sua vida,
ergue-te, ergue-te, sobre as nações!
Solta a voz, anuncia, clama ao céu, já é dia, brilhe a vossa
luz
diante dos homens.
Corta o mal, denuncia, prega o bem, ora e vigia
desperta tu que dormes, levanta-te dos mortos e Cristo te
iluminará...

Há uma Igreja neste lugar, almas que precisam lutar
que se tornem adoradores, se ofereçam como altares
herdeiros das promessas do Pai

Há uma guerra pra começar, anjos combatendo no ar
não contra homens de carne, nem contra irmãos de sangue
mas contra as insídias do mal!

Estende a mão...
Celina Borges

EM BREVE O AUDIO

sábado, 1 de outubro de 2011

Outubro,Mês de Aniversário da Celina!

é Gente,dia 30/10 Nossa Querida Celina Completará mais um ano de vida!


Mande sua Mensagem para Celina no Nosso E-mail : 


faclubetudoposso.gtp@hotmail.com



Vamos Montar uma homenagem bem legal para a Cê!


Não se esqueça de colocar Nome,Cidade e Estado


Vamos lá galera!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

GTP No Facebook

É isso ai Galera,acabamos de Criar um Perfil no Facebook,adicione nós lá!


http://www.facebook.com/profile.php?id=100002865917558

Hallel de Franca 2011

Este ano estamos no Parque de Exposições Fernando Costa, e estamos felizes!

Iniciaremos dia 09, 6ª feira, às 18h00, com banda, depois a Missa com o Pe. Kleber Tostes. No sábado das 09h00 até as 23h00, o palco não para. No domingo iniciamos às 09h00 até às 20h00.

Já temos as bandas confirmadas em nosso Hallel este ano:
- Canção Nova – Dunga, Diácono Nelsinho e Salete Ferreira
- Nova Aliança com Cristo
- Expresso HG
- Cavaleiros Consagrados
- Alexandre Soul
- Celina Borges
- Christi
- Tribo Maranata
- Frei Rinaldo Stecanela
- Cavaleiros Consagrados
- Myron
- Léia Ritzel
- Estação 12

Missas:
- D. Pedro Luiz, nosso bispo, dia 10 às 10h00 no palco;
- Pe. Robson de Oliveira do Divino Pai Eterno, dia 11, às 17h30, no palco
- Pe Fábio de Melo da Canção Nova, dia 11 às 09h00, no palco central
- Frei Rinaldo, Pe. Agnaldo José, Pe. Fábio Marinho e muitos outros, celebrando 20 Missas, para todos receberem graças sobre graças.

No sábado, das 22h00 às 24h00, Adoração na Capela, com o Pe. Paulo e o Fernandinho. Teremos também um Luau, das 00h00 de domingo, até 01h00, com o Pe. Fábio Marinho de Uberlândia.

Contamos também com os módulos, com evangelização temática: Capela, Maria, Sim à Vida, Confissõs, PHN, RCC, Mãos que evangelizam, Vocação e Missão, Hallelzinho, Acampamentos, Músicos e Rock.

Teremos a Praça de Alimentação, com uma equipe que faz coisas deliciosas, a Praça das Livrarias, para comprarem o que quiserem de livros e camisetas.

Visitem a GRIFE HALLEL, com lindas camisetas. Pedimos que consumam produtos do Hallel, é isso que nos ajuda a manter essa obra! 

sábado, 13 de agosto de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Banda da GCivil Metropolitana de São Paulo faz arranjos para encenação da Paixão de Cristo


20/04/2011 12:05

A Banda da Guarda Civil Metropolitana participa nesta sexta-feira (22/4), da encenação da Paixão de Cristo, realizada no Santuário Eucarístico da Penha. A banda tocará canções do filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson.

SÃO PAULO [ ABN NEWS ] — A Banda da Guarda Civil Metropolitana participará na próxima sexta-feira (22/4), das 20h às 23h, dos festejos da Paixão de Cristo, no largo do Rosário, no Santuário Eucarístico, na Penha Zona Leste da Cidade. Este ano, a banda da GCM, comandada pelo inspetor maestro Renan Gomes Luiz, participará do evento litúrgico, cujas canções sacras foram baseadas nas canções do filme, A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. Os arranjos foram feitos pelo maestro e GCM 1º classe e maestro, Waldyr Aguiar de Jesus Filho.

Além da trilha sonora do filme, canções como Tudo Posso (Celina Borges), entre outras, num total de doze músicas, serão apresentadas no espetáculo que abre os festejos da Páscoa e reúne todo o ano, milhares de pessoas, entre moradores, turistas e autoridades.

A encenação Paixão de Cristo é uma celebração religiosa da Igreja Católica e é promovida anualmente pelo grupo de jovens da paróquia, onde participa a comunidade da região.

sábado, 16 de abril de 2011

Hoje Não Perca!

Programa Mais Brasil AO VIVO

Você não pode perder! No dia 16 de abrilsábado, com início às 13:00 h, o programa Mais Brasil, da Canção Nova, será ao vivo com a cantora Celina Borges!

Sintonize no canal 45 UHF e acompanhe, muitas surpresas irão emocionar seu coração!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Melhor Cantora Cristã - VOTEM NA CELINA

É  Isso ai galera!


Celina está concorrendo a essa lista de Melhor Cantora cristã no Terra Listas


Vamos Votar até que ela chegue ao 1º Lugar


No momento está em 7º Lugar


Vamos Lá queridos,


SEGUE ABAIXO O LINK

http://listas.terra.com.br/musica/1257-melhor-cantora-crista

quinta-feira, 10 de março de 2011

Aviso da Celina!

"Meus queridos.. recebi uma ligação agora da diretora do programa Mais Brasil, da Canção Nova, dizendo que houveram sérios problemas com o cenário e que será necessário o adiamento do programa. É de coração apertado que comunico-lhes isso, sabendo do carinho e retorno de todos vocês. Tenho a certeza de que logo logo teremos a nova data. Fiquem com Deus, um grande abraço da Cê."


Fonte - Facebook oficial




http://www.facebook.com/CelinaBorges

sábado, 5 de março de 2011

Celina No Programa Mais Brasil na Canção Nova

Dia:12/03/2011


Celina Estará ao vivo no Programa Mais Brasil da Rede Canção Nova de Televisão,com Eros Biondini


Não podemos Perder!



Site Novo Lindooo

É HOJE

COLOCAREI TUDO AQUI ATÉ LIBERAREM O SITE TODO
RSRSRSRSR


Celina Borges

Celina Borges


   “Meu coração está pronto ó Deus! Quero louvar e cantar para tI"

Há 25 anos servindo à Igreja por meio da Renovação Carismática Católica (RCC), Celina Borges estáno topo da listagem de melhores cantores católicos do Brasil. Comparada com grandes nomes da música gospel americana, a cantora se destaca pelas letras, pela voz forte e a interpretação única nos palcos de todo o país.
Sua carreira como musicista começou cedo, como professora de piano. Hoje Celina Borges celebra a conquista do oitavo trabalho musical, o CD “Tudo Posso”, gravado pela Som Livre (Globo Produções) no final de 2009. A obra reúne os maiores sucessos de sua carreira e conta com a participação da cantora Adriana e do Padre Fábio de Melo. A música inédita “Nas Asas do Senhor” tem encantado o público.

Músicas em forma de oração. Assim pode ser definido o trabalho de Celina Borges. Letras que falam com maestria de um coração aberto para Deus. Tudo isso com uma profunda preocupação pela sonoridade e pelos arranjos. Além de trabalhos realizados no Brasil, Celina Borges já se apresentou nos Estados Unidos, Portugal e Itália. Em 2006, representou o Brasil no Anno Domini Multifestival – VI Seminário Internazionale di Artisti di Ispirazione Cristiana.

Celina participou ainda, da gravação do DVD de Padre Fábio de Melo, “Eu e o Tempo”. A mineira de Belo Horizonte reconhece a importância da música católica para a evangelização: “Agradeço a Deus, por ele abrir portas para que a beleza da Igreja Católica seja conhecida. É uma responsabilidade muito grande para o nosso ministério”.

Recentemente Celina recebeu o troféu nacional da musica católica 2010 nas categorias “Melhor intérprete feminino” e “Melhor compositor”, seguindo para uma turnê internacional em Londres e cidades próximas para divulgação das musicas que lhe deram este prêmio!!!

É HOJE

Em poucas horas estará disponivel o novo site da Celina


aguardem!


www.celinaborges.com.br

domingo, 13 de fevereiro de 2011




Duas Asas: Fé e Razão

Celina Borges

Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo da verdade
De O conhecer a Ele, ó fé não tenhas medo da razão
Razão quem te criou foi Deus Duas asas que nos elevam para o céu
Duas asas que nos elevam em contemplação
Deus sempre abençoa o esforço da busca, crer nada mais é pensar querendo
Pensar crendo e pensando crer
O Eterno entra no tempo, o Tudo esconde-se no fragmento
Falar de fé não é fácil, nem todo o que acredita crê
A fé e a razão, a fé e a razão, razão e a fé.
A fé e a razão, a fé e a razão, razão e a fé.
Deus sempre abençoa o esforço da busca, crer nada mais é pensar querendo
Pensar crendo e pensando crer
O Eterno entra no tempo, o Tudo esconde-se no fragmento
Deus assume um rosto humano e todos têm acesso ao Pai
A fé e a razão, a fé e a razão, razão e a fé
Duas asas que nos elevam para o céu 

CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AOS ARTISTAS 1999

CARTA DO PAPA
JOÃO PAULO II
AOS ARTISTAS

1999
A todos aqueles que apaixonadamente
procuram novas « epifanias » da beleza
para oferecê-las ao mundo
como criação artística.

« Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa » (Gn 1,31).

O artista, imagem de Deus Criador
1. Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de beleza, pode intuir algo daquele pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos. Infinitas vezes se espelhou um relance daquele sentimento no olhar com que vós — como, aliás, os artistas de todos os tempos —, maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das formas, vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso génio artístico, quase sentindo o eco daquele mistério da criação a que Deus, único criador de todas as coisas, de algum modo vos quis associar.
Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do livro do Génesis para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto ligado por experiências dos meus tempos passados e que marcaram indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar continuidade àquele fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história, nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro milénio.
Na realidade, não se trata de um diálogo ditado apenas por circunstâncias históricas ou motivos utilitários, mas radicado na própria essência tanto da experiência religiosa como da criação artística. A página inicial da Bíblia apresenta-nos Deus quase como o modelo exemplar de toda a pessoa que produz uma obra: no artífice, reflecte-se a sua imagem de Criador. Esta relação é claramente evidenciada na língua polaca, com a semelhança lexical das palavras stwórca (criador) e twórca (artífice).
Qual é a diferença entre « criador » e « artífice »? Quem cria dá o próprio ser, tira algo do nada — ex nihilo sui et subiecti, como se costuma dizer em latim — e isto, em sentido estrito, é um modo de proceder exclusivo do Omnipotente. O artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que dá forma e significado. Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus. Com efeito, depois de ter afirmado que Deus criou o homem e a mulher « à sua imagem » (cf. Gn 1,27), a Bíblia acrescenta que Ele confiou-lhes a tarefa de dominarem a terra (cf. Gn 1,28). Foi no último dia da criação (cf. Gn 1,28-31). Nos dias anteriores, como que marcando o ritmo da evolução cósmica, Javé tinha criado o universo. No final, criou o homem, o fruto mais nobre do seu projecto, a quem submeteu o mundo visível como um campo imenso onde exprimir a sua capacidade inventiva.
Por conseguinte, Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser artífice. Na « criação artística », mais do que em qualquer outra actividade, o homem revela-se como « imagem de Deus », e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador. Obviamente é uma participação, que deixa intacta a infinita distância entre o Criador e a criatura, como sublinhava o Cardeal Nicolau Cusano: « A arte criativa, que a alma tem a sorte de albergar, não se identifica com aquela arte por essência que é própria de Deus, mas constitui apenas comunicação e participação dela ».(1)
Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua vocação e missão.
A vocação especial do artista
2. Nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas, segundo a expressão do Génesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima.
É importante notar a distinção entre estas duas vertentes da actividade humana, mas também a sua conexão. A distinção é evidente. De facto, uma coisa é a predisposição pela qual o ser humano é autor dos próprios actos e responsável do seu valor moral, e outra a predisposição pela qual é artista, isto é, sabe agir segundo as exigências da arte, respeitando fielmente as suas regras específicas.(2) Assim, o artista é capaz de produzir objectos, mas isso de per si ainda não indica nada sobre as suas disposições morais. Neste caso, não se trata de plasmar-se a si mesmo, de formar a própria personalidade, mas apenas de fazer frutificar capacidades operativas, dando forma estética às ideias concebidas pela mente.
Mas, se a distinção é fundamental, importante é igualmente a conexão entre as duas predisposições: a moral e a artística. Ambas se condicionam de forma recíproca e profunda. De facto, o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si mesmo que o resultado constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é. Isto aparece confirmado inúmeras vezes na história da humanidade. De facto, quando o artista plasma uma obra-prima, não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio dela, de certo modo manifesta também a própria personalidade. Na arte, encontra uma dimensão nova e um canal estupendo de expressão para o seu crescimento espiritual. Através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a História da Arte não é apenas uma história de obras, mas também de homens. As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura.
A vocação artística ao serviço da beleza
3. Um conhecido poeta polaco, Cyprian Norwid, escreveu: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».(3)
O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo.(4) A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões. Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza. Justamente o entenderam os Gregos, quando, fundindo os dois conceitos, cunharam uma palavra que abraça a ambos: « kalokagathía », ou seja, « beleza-bondade ». A este respeito, escreve Platão: « A força do Bem refugiou-se na natureza do Belo ».(5)
Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade e o bem. O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o dom do « talento artístico ». E também este é, certamente, um talento que, na linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se deve pôr a render.
Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha divina que é a vocação artística — de poeta, escritor, pintor, escultor, arquitecto, músico, actor... —, adverte ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade.
O artista e o bem comum
4. De facto, a sociedade tem necessidade de artistas, da mesma forma que precisa de cientistas, técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas da fé, professores, pais e mães, que garantam o crescimento da pessoa e o progresso da comunidade, através daquela forma sublime de arte que é a « arte de educar ». No vasto panorama cultural de cada nação, os artistas têm o seu lugar específico. Precisamente enquanto obedecem ao seu génio artístico na realização de obras verdadeiramente válidas e belas, não só enriquecem o património cultural da nação e da humanidade inteira, mas prestam também um serviço social qualificado ao bem comum.
A vocação diferente de cada artista, ao mesmo tempo que determina o âmbito do seu serviço, indica também as tarefas que deve assumir, o trabalho duro a que tem de sujeitar-se, a responsabilidade que deve enfrentar. Um artista, consciente de tudo isto, sabe também que deve actuar sem deixar-se dominar pela busca duma glória efémera ou pela ânsia de uma popularidade fácil, e menos ainda pelo cálculo do possível ganho pessoal. Há, portanto, uma ética ou melhor uma « espiritualidade » do serviço artístico, que a seu modo contribui para a vida e o renascimento do povo. A isto mesmo parece querer aludir Cyprian Norwid, quando afirma: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».
A arte face ao mistério do Verbo encarnado
5. A Lei do Antigo Testamento contém uma proibição explícita de representar Deus invisível e inexprimível através duma « estátua esculpida ou fundida » (Dt 27,15), porque Ele transcende qualquer representação material: « Eu sou Aquele que sou » (Ex 3,14). No mistério da Encarnação, porém, o Filho de Deus tornou-Se visível em carne e osso: « Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher » (Gl 4,4). Deus fez-Se homem em Jesus Cristo, que Se tornou assim « o centro de referência para se poder compreender o enigma da existência humana, do mundo criado, e mesmo de Deus ».(6)
Esta manifestação fundamental do « Deus-Mistério » apresenta-se como estímulo e desafio para os cristãos, inclusive no plano da criação artística. E gerou-se um florescimento de beleza, cuja linfa proveio precisamente daqui, do mistério da Encarnação. De facto, quando Se fez homem, o Filho de Deus introduziu na história da humanidade toda a riqueza evangélica da verdade e do bem e, através dela, pôs a descoberto também uma nova dimensão da beleza: a mensagem evangélica está completamente cheia dela.
A Sagrada Escritura tornou-se, assim, uma espécie de « dicionário imenso » (P. Claudel) e de « atlas iconográfico » (M. Chagall), onde foram beber a cultura e a arte cristã. O próprio Antigo Testamento, interpretado à luz do Novo, revelou mananciais inexauríveis de inspiração. Desde as narrações da criação, do pecado, do dilúvio, do ciclo dos Patriarcas, dos acontecimentos do êxodo, passando por tantos outros episódios e personagens da História da Salvação, o texto bíblico atiçou a imaginação de pintores, poetas, músicos, autores de teatro e de cinema. Uma figura como a de Job, só para dar um exemplo, com a problemática pungente e sempre actual da dor, continua a suscitar conjuntamente interesse filosófico, literário e artístico. E que dizer então do Novo Testamento? Desde o Nascimento ao Gólgota, da Transfiguração à Ressurreição, dos milagres aos ensinamentos de Cristo, até chegar aos acontecimentos narrados nos Actos dos Apóstolos ou previstos no Apocalipse em chave escatológica, inúmeras vezes a palavra bíblica se fez imagem, música, poesia, evocando com a linguagem da arte o mistério do « Verbo feito carne ».
Tudo isto constitui, na história da cultura, um amplo capítulo de fé e de beleza. Dele tiraram proveito sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e de vida. Para muitos deles, em tempos de escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia constituíram mesmo um meio concreto de catequização.(7) Mas para todos, crentes ou não, as realizações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça e habita o mundo.
Entre Evangelho e arte, uma aliança profunda
6. Com efeito, toda a intuição artística autêntica ultrapassa o que os sentidos captam e, penetrando na realidade, esforça-se por interpretar o seu mistério escondido. Ela brota das profundidades da alma humana, lá onde a aspiração de dar um sentido à própria vida se une com a percepção fugaz da beleza e da unidade misteriosa das coisas. Uma experiência partilhada por todos os artistas é a da distância incolmável que existe entre a obra das suas mãos, mesmo quando bem sucedida, e a perfeição fulgurante da beleza vislumbrada no ardor do momento criativo: tudo o que conseguem exprimir naquilo que pintam, modelam, criam, não passa de um pálido reflexo daquele esplendor que brilhou por instantes diante dos olhos do seu espírito.
O crente não se maravilha disto: sabe que se debruçou por um instante sobre aquele abismo de luz que tem a sua fonte originária em Deus. Há porventura motivo para admiração, se o espírito fica de tal modo inebriado que não sabe exprimir-se senão por balbuciações? Ninguém mais do que o verdadeiro artista está pronto a reconhecer a sua limitação e fazer suas as palavras do apóstolo Paulo, segundo o qual Deus « não habita em santuários construídos pela mão do homem », pelo que « não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem » (Act 17,24.29). Se já a realidade íntima das coisas se situa « para além » das capacidades de compreensão humana, quanto mais Deus nas profundezas do seu mistério insondável!
Já de natureza diversa é o conhecimento de fé: este supõe um encontro pessoal com Deus em Jesus Cristo. Mas também este conhecimento pode tirar proveito da intuição artística. Modelo eloquente duma contemplação estética que se sublima na fé são, por exemplo, as obras do Beato Fra Angélico. A este respeito, é igualmente significativa a lauda extasiada, que S. Francisco de Assis repete duas vezes na chartula, redigida depois de ter recebido os estigmas de Cristo no monte Alverne: « Vós sois beleza... Vós sois beleza! ».(8) S. Boaventura comenta: « Contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rasto impresso nas criaturas, buscava por todo o lado o Dilecto ».(9)
Uma perspectiva semelhante aparece na espiritualidade oriental, quando Cristo é designado como « o Belíssimo de maior beleza que todos os mortais ».(10) Assim comenta Macário, o Grande, a beleza transfigurante e libertadora que irradia do Ressuscitado: « A alma que foi plenamente iluminada pela beleza inexprimível da glória luminosa do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito Santo (...) é toda olhos, toda luz, toda rosto ».(11)
Toda a forma autêntica de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à realidade mais profunda do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio muito válido de aproximação ao horizonte da fé, onde a existência humana encontra a sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude evangélica da verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da realidade.
Os primórdios
7. A arte, que o cristianismo encontrou nos seus inícios, era o fruto maduro do mundo clássico, exprimia os seus cânones estéticos e, ao mesmo tempo, veiculava os seus valores. A fé impunha aos cristãos, tanto no campo da vida e do pensamento como no da arte, um discernimento que não permitia a aceitação automática deste património. Assim, a arte de inspiração cristã começou em surdina, ditada pela necessidade que os crentes tinham de elaborar sinais para exprimirem, com base na Escritura, os mistérios da fé e simultaneamente de arranjar um « código simbólico » para se reconhecerem e identificarem especialmente nos tempos difíceis das perseguições. Quem não recorda certos símbolos que foram os primeiros vestígios duma arte pictórica e plástica? O peixe, os pães, o pastor... Evocavam o mistério, tornando-se quase insensivelmente esboços de uma arte nova.
Quando, pelo édito de Constantino, foi concedido aos cristãos exprimirem-se com plena liberdade, a arte tornou-se um canal privilegiado de manifestação da fé. Por todo o lado, começaram a despontar majestosas basílicas, nas quais os cânones arquitectónicos do antigo paganismo eram assumidos sim, mas reajustados às exigências do novo culto. Como não recordar pelo menos a antiga Basílica de S. Pedro e a de S. João de Latrão, construídas pelo imperador Constantino? Ou, no âmbito dos esplendores da arte bizantina, a Haghia Sophía de Constantinopla querida por Justiniano?
Enquanto a arquitectura desenhava o espaço sagrado, a necessidade de contemplar o mistério e de o propor de modo imediato aos simples levou progressivamente às primeiras expressões da arte pictórica e escultural. Ao mesmo tempo surgiam os primeiros esboços de uma arte da palavra e do som; e se Agostinho incluía também, entre as temáticas da sua produção, um De musica, Hilário, Ambrósio, Prudêncio, Efrém da Síria, Gregório de Nazianzo, Paulino de Nola, para citar apenas alguns nomes, faziam-se promotores de poesia cristã, que atinge frequentemente um alto valor não só teológico mas também literário. A sua produção poética valorizava formas herdadas dos clássicos, mas bebia na linfa pura do Evangelho, como justamente sentenciava o Santo poeta de Nola: « A nossa única arte é a fé, e Cristo é o nosso canto ».(12) Algum tempo mais tarde, Gregório Magno, com a compilação do Antiphonarium, punha as premissas para o desenvolvimento orgânico daquela música sacra tão original, que ficou conhecida pelo nome dele. Com as suas inspiradas modulações, o Canto Gregoriano tornar-se-á, com o passar dos séculos, a expressão melódica típica da fé da Igreja durante a celebração litúrgica dos Mistérios Sagrados. Assim, o « belo » conjugava-se com o « verdadeiro », para que, também através dos caminhos da arte, os ânimos fossem arrebatados do sensível ao eterno.
Não faltaram momentos difíceis neste caminho. A propósito precisamente do tema da representação do mistério cristão, a antiguidade conheceu uma áspera controvérsia, que passou à história com o nome de « luta iconoclasta ». As imagens sagradas, já então difusas na devoção do povo de Deus, foram objecto de violenta contestação. O Concílio celebrado em Niceia no ano 787, que estabeleceu a legitimidade das imagens e do seu culto, foi um acontecimento histórico não só para a fé mas também para a própria cultura. O argumento decisivo a que recorreram os Bispos para debelar a controvérsia, foi o mistério da Encarnação: se o Filho de Deus entrou no mundo das realidades visíveis, lançando, pela sua humanidade, uma ponte entre o visível e o invisível, é possível pensar que analogamente uma representação do mistério pode ser usada, pela dinâmica própria do sinal, como evocação sensível do mistério. O ícone não é venerado por si mesmo, mas reenvia ao sujeito que representa.(13)
A Idade Média
8. Os séculos seguintes foram testemunhas dum grande desenvolvimento da arte cristã. No Oriente, continuou a florescer a arte dos ícones, vinculada a significativos cânones teológicos e estéticos e apoiada na convicção de que, em determinado sentido, o ícone é um sacramento: com efeito, de modo análogo ao que sucede nos sacramentos, ele torna presente o mistério da Encarnação nalgum dos seus aspectos. Por isso mesmo, a beleza dum ícone pode ser apreciada sobretudo no interior de um templo, com os candelabros que ardem e suscitam na penumbra infinitos reflexos de luz. A este respeito, escreve Pavel Florenskij: « Bárbaro, pesado, fútil à luz clara do dia, o ouro reanima-se com a luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz cintilar aqui e ali com miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que enchem o espaço celeste ».(14)
No Ocidente, são muito variadas as perspectivas e os pontos donde partem os artistas, dependendo também das convicções fundamentais presentes no ambiente cultural do respectivo tempo. O património artístico, que se foi acumulando ao longo dos séculos, conta um florescimento vastíssimo de obras sacras de alta inspiração, que deixam cheio de admiração mesmo o observador do nosso tempo. Em primeiro plano, situam-se as grandes construções do culto, onde a funcionalidade sempre se une ao génio artístico, e este último se deixa inspirar pelo sentido do belo e pela intuição do mistério. Nascem daí estilos bem conhecidos na História da Arte. A força e a simplicidade do românico, expressa nas catedrais ou nas abadias, vai-se desenvolvendo gradualmente nas ogivas e esplendores do gótico. Dentro destas formas, não existe só o génio dum artista, mas a alma dum povo. Nos jogos de luzes e sombras, nas formas ora massiças ora ogivadas, intervêm certamente considerações de técnica estrutural, mas também tensões próprias da experiência de Deus, mistério « tremendo » e « fascinante ». Como sintetizar em poucos traços, nas diversas expressões da arte, a força criativa dos longos séculos da Idade Média cristã? Uma cultura inteira, embora com as limitações humanas sempre presentes, impregnara-se de Evangelho, e onde o pensamento teológico realizava a Summa de S. Tomás, a arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério, ao mesmo tempo que um poeta admirável como Dante Alighieri podia compor « o poema sagrado, para o qual concorreram céu e terra »,(15) como ele próprio classifica a Divina Comédia.
Humanismo e Renascimento
9. A feliz estação cultural, em que tem origem o florescimento artístico extraordinário do Humanismo e do Renascimento, apresenta também reflexos significativos do modo como os artistas desse período concebiam o tema religioso. Naturalmente as inspirações são tão variadas como os seus estilos, ou pelo menos como os mais importantes deles. Mas, não é minha intenção lembrar coisas que vós, artistas, bem conheceis. Dado que vos escrevo deste Palácio Apostólico, escrínio de obras-primas talvez único no mundo, quero antes fazer-me voz dos maiores artistas que por aqui disseminaram as riquezas do seu génio, permeado frequentemente de grande profundidade espiritual. Daqui fala Miguel Ângelo, que na Capela Sistina de algum modo compendiou, desde a Criação ao Juízo Universal, o drama e o mistério do mundo, retratando Deus Pai, Cristo Juiz, o homem no seu fatigante caminho desde as origens até ao fim da História. Daqui fala o génio delicado e profundo de Rafael, apontando, na variedade das suas pinturas e de modo especial na « Disputa » da Sala da Assinatura, o mistério da revelação de Deus Trinitário, que na Eucaristia Se faz companheiro do homem, e projecta luz sobre as questões e os anelos da inteligência humana. Daqui, da majestosa Basílica dedicada ao Príncipe dos Apóstolos, da colunata que sai dela como dois braços abertos para acolher a humanidade, falam ainda Bramante, Bernini, Borromini, Maderno, para citar apenas os maiores, oferecendo plasticamente o sentido do mistério que faz da Igreja uma comunidade universal, hospitaleira, mãe e companheira de viagem para todo o homem à procura de Deus.
A arte sacra encontrou, neste conjunto extraordinário, uma força expressiva excepcional, atingindo níveis de imorredoiro valor quer estético quer religioso. O que vai caracterizando cada vez mais tal arte, sob o impulso do Humanismo e do Renascimento e das sucessivas tendências da cultura e da ciência, é um crescente interesse pelo homem, pelo mundo, pela realidade histórica. Esta atenção, por si mesma, não é de modo algum um perigo para a fé cristã, centrada sobre o mistério da Encarnação e, portanto, sobre a valorização do homem por parte de Deus. Precisamente os maiores artistas acima mencionados no-lo demonstram. Bastaria pensar no modo como Miguel Ângelo exprime nas suas pinturas e esculturas, a beleza do corpo humano.(16)
Aliás, mesmo no novo clima dos últimos séculos quando parte da sociedade parece indiferente à fé, a arte religiosa não cessou de avançar. A constatação torna-se ainda mais palpável, se da vertente das artes figurativas se passa a considerar o grande desenvolvimento que, neste mesmo período de tempo, teve a música sacra, composta para as necessidades litúrgicas, ou apenas relacionada com temas religiosos. Sem contar tantos artistas que a ela se dedicaram amplamente (como não lembrar Pero Luís de Palestrina, Orlando de Lasso, Tomás Luís de Victoria?), é sabido que muitos dos grandes compositores — de Händel a Bach, de Mozart a Schubert, de Beethoven a Berlioz, de Listz a Verdi — nos ofereceram obras de altíssima inspiração também neste campo.
A caminho dum renovado diálogo
10. Verdade é que, na Idade Moderna, ao lado deste humanismo cristão que continuou a produzir significativas expressões de cultura e de arte, foi-se progressivamente afirmando também uma forma de humanismo caracterizada pela ausência de Deus senão mesmo pela oposição a Ele. Este clima levou por vezes a uma certa separação entre o mundo da arte e o da fé, pelo menos no sentido de menor interesse de muitos artistas pelos temas religiosos.
Mas, vós sabeis que a Igreja continuou a nutrir grande apreço pelo valor da arte enquanto tal. De facto esta, mesmo fora das suas expressões mais tipicamente religiosas, mantém uma afinidade íntima com o mundo da fé, de modo que, até mesmo nas condições de maior separação entre a cultura e a Igreja, é precisamente a arte que continua a constituir uma espécie de ponte que leva à experiência religiosa. Enquanto busca do belo, fruto duma imaginação que voa mais acima do dia-a-dia, a arte é, por sua natureza, uma espécie de apelo ao Mistério. Mesmo quando perscruta as profundezas mais obscuras da alma ou os aspectos mais desconcertantes do mal, o artista torna-se de qualquer modo voz da esperança universal de redenção.
Compreende-se, assim, porque a Igreja está especialmente interessada no diálogo com a arte e quer que se realize na nossa época uma nova aliança com os artistas, como o dizia o meu venerando predecessor Paulo VI no seu discurso veemente aos artistas, durante um encontro especial na Capela Sistina a 7 de Maio de 1964.(17) A Igreja espera dessa colaboração uma renovada « epifania » de beleza para o nosso tempo e respostas adequadas às exigências próprias da comunidade cristã.
No espírito do Concílio Vaticano II
11. O Concílio Vaticano II lançou as bases para uma renovada relação entre a Igreja e a cultura, com reflexos imediatos no mundo da arte. Tal relação é proposta na base da amizade, da abertura e do diálogo. Na Constituição pastoral Gaudium et spes, os Padres Conciliares sublinharam a « grande importância » da literatura e das artes na vida do homem: « Elas procuram dar expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência das suas tentativas para conhecer-se e aperfeiçoar-se a si mesmo e ao mundo; e tentam identificar a sua situação na história e no universo, dar a conhecer as suas misérias e alegrias, necessidades e energias, e desvendar um futuro melhor ».(18)
Baseados nisto, os Padres, no final do Concílio, dirigiram aos artistas uma saudação e um apelo, nestes termos: « O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração ».(19) Neste mesmo espírito de profunda estima pela beleza, a Constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium lembrou a histórica amizade da Igreja pela arte e, falando mais especificamente da arte sacra, « vértice » da arte religiosa, não hesitou em considerar como « nobre ministério » a actividade dos artistas, quando as suas obras são capazes de reflectir de algum modo a beleza infinita de Deus e orientar para Ele a mente dos homens.(20) Também através do seu contributo, « o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado e a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens ».(21) À luz disto, não surpreende a afirmação do Padre Marie-Dominique Chenu, segundo o qual o historiador da Teologia deixaria a sua obra incompleta, se não dedicasse a devida atenção às realizações artísticas, quer literárias quer plásticas, que a seu modo constituem « não só ilustrações estéticas, mas verdadeiros “lugares” teológicos ».(22)
A Igreja precisa da arte
12. Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar perceptível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve. E isto, sem privar a própria mensagem do seu valor transcendente e do seu halo de mistério.
A Igreja precisa particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo, trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas. O próprio Cristo utilizou amplamente as imagens na sua pregação, em plena coerência, aliás, com a opção que, pela Encarnação, fizera d'Ele mesmo o ícone do Deus invisível.
A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus.
A Igreja precisa de arquitectos, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis destruições da última guerra mundial e com o crescimento das cidades, uma nova geração de arquitectos se amalgamou com as exigências do culto cristão, confirmando a capacidade de inspiração que possui o tema religioso relativamente também aos critérios arquitectónicos do nosso tempo. De facto, não raro se construíram templos, que são simultaneamente lugares de oração e autênticas obras de arte.
A arte precisa da Igreja?
13. Portanto, a Igreja tem necessidade da arte. Pode-se dizer também que a arte precisa da Igreja? A pergunta pode parecer provocatória. Mas, se for compreendida no seu recto sentido, obedece a uma motivação legítima e profunda. Na realidade, o artista vive sempre à procura do sentido mais íntimo das coisas; toda a sua preocupação é conseguir exprimir o mundo do inefável. Como não ver então a grande fonte de inspiração que pode ser, para ele, esta espécie de pátria da alma que é a religião? Não é porventura no âmbito religioso que se colocam as questões pessoais mais importantes e se procuram as respostas existenciais definitivas?
De facto, o tema religioso é dos mais tratados pelos artistas de cada época. A Igreja tem feito sempre apelo às suas capacidades criativas, para interpretar a mensagem evangélica e a sua aplicação à vida concreta da comunidade cristã. Esta colaboração tem sido fonte de mútuo enriquecimento espiritual. Em última instância, dela tirou vantagem a compreensão do homem, da sua imagem autêntica, da sua verdade. Sobressaiu também o laço peculiar que existe entre a arte e a revelação cristã. Isto não quer dizer que o génio humano não tenha encontrado estímulos também noutros contextos religiosos; basta recordar a arte antiga, sobretudo grega e romana, e a arte ainda florescente das vetustas civilizações do Oriente. A verdade é que o cristianismo, em virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte particularmente rico de motivos de inspiração. Que grande empobrecimento seria para a arte o abandono desse manancial inexaurível que é o Evangelho!
Apelo aos artistas
14. Com esta Carta dirijo-me a vós, artistas do mundo inteiro, para vos confirmar a minha estima e contribuir para o restabelecimento duma cooperação mais profícua entre a arte e a Igreja. Convido-vos a descobrir a profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou a arte nas suas formas expressivas mais nobres. Nesta perspectiva, faço-vos um apelo a vós, artistas da palavra escrita e oral, do teatro e da música, das artes plásticas e das mais modernas tecnologias de comunicação. Este apelo dirijo-o de modo especial a vós, artistas cristãos: a cada um queria recordar que a aliança que sempre vigorou entre Evangelho e arte, independentemente das exigências funcionais, implica o convite a penetrar, pela intuição criativa, no mistério de Deus encarnado e contemporaneamente no mistério do homem.
Cada ser humano é, de certo modo, um desconhecido para si mesmo. Jesus Cristo não Se limita a manifestar Deus, mas « revela o homem a si mesmo ».(23) Em Cristo, Deus reconciliou consigo o mundo. Todos os crentes são chamados a dar testemunho disto; mas compete a vós, homens e mulheres que dedicastes a vossa vida à arte, afirmar com a riqueza da vossa genialidade que, em Cristo, o mundo está redimido: está redimido o homem, está redimido o corpo humano, está redimida a criação inteira, da qual S. Paulo escreveu que « aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus » (Rm 8,19). Aguarda a revelação dos filhos de Deus, também através da arte e na arte. Esta é a vossa tarefa. Em contacto com as obras de arte, a humanidade de todos os tempos — também a de hoje — espera ser iluminada acerca do próprio caminho e destino.
15. Na Igreja, ressoa muitas vezes esta invocação ao Espírito Santo: Veni, Creator Spiritus..., « Vinde, Espírito Criador, as nossas mentes visitai, enchei da vossa graça os corações que criastes ».(24)
Ao Espírito Santo, « o Sopro » (ruah), acena já o livro do Génesis: « A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas » (1,2). Existe grande afinidade lexical entre « sopro — expiração » e « inspiração ». O Espírito é o misterioso artista do universo. Na perspectiva do terceiro milénio, faço votos de que todos os artistas possam receber em abundância o dom daquelas inspirações criativas donde tem início toda a autêntica obra de arte.
Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e exteriores, que podem inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frémito daquele « sopro » com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação. Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao encontro do génio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, e acorda nele as energias da mente e do coração, tornando-o apto para conceber a ideia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se então justamente, embora de forma analógica, de « momentos de graça », porque o ser humano tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o transcende.
A « Beleza » que salva
16. Já no limiar do terceiro milénio, desejo a todos vós, artistas caríssimos, que sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A beleza, que transmitireis às gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro. Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna.
De tal assombro poderá brotar aquele entusiasmo de que fala Norwid na poesia, a que me referi ao início. Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade deste entusiasmo, para enfrentar e vencer os desafios cruciais que se prefiguram no horizonte. Com tal entusiasmo, a humanidade poderá, depois de cada extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente neste sentido foi dito, com profunda intuição, que « a beleza salvará o mundo ».(25)
A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: « Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! ».(26)
Que as vossas múltiplas sendas, artistas do mundo, possam conduzir todas àquele Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração, inebriamento, alegria inexprimível.
Sirva-vos de guia e inspiração o mistério de Cristo ressuscitado, em cuja contemplação se alegra a Igreja nestes dias.
Acompanhe-vos a Virgem Santa, a « toda bela », cuja efígie inumeráveis artistas delinearam e o grande Dante contempla nos esplendores do Paraíso como « beleza, que alegria era dos olhos de todos os outros santos ».(27)
« Eleva-se do caos o mundo do espírito »! A partir destas palavras, que Adam Mickiewicz escrevera numa hora de grande aflição para a pátria polaca,(28) formulo um voto para vós: que a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como revérbero do Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!
Com os meus votos mais cordiais!
Vaticano, 4 de Abril de 1999, Solenidade da Páscoa da Ressurreição.